Seja no campo, na cidade ou na praia, quando se planeja construir uma casa não se pode deixar de pensar em métodos e materias sustentáveis que, além de minimizar o impacto ambiental durante e após a construção, contribuem para o conforto e para a economia de energia. Vamos apresentar aqui, como exemplo, as estratégias que utilizamos para a Casa Morretes, vencedora do 9º Prêmio Saint-Gobain AsBEA de Arquitetura, que promove projetos com tecnologias e soluções inovadoras no âmbito da Sustentabilidade.
Sustentabilidade e construção
Esse é um tema amplamente discutido na atualidade em diversos campos, devido às mudanças climáticas marcadas nas últimas décadas, principalmente, pelo aumento da temperatura da Terra devido às altas concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera.
No quesito construção, mundialmente, tem se pesquisado novas tecnologias e processos para diminuir o impacto das construções e o mercado está tentando acompanhar essa demanda. As estratégias buscam maior eficiência, maior aproveitamento de materiais, diminuição de resíduos, prejuízos e tempo de obra, que são algumas das premissas que garantem uma execução com maior respeito à natureza.
Casa Morretes – uma casa sustentável
Localizada em uma região historicamente conhecida por seus atributos naturais, a cidade de Morretes, no Paraná, atrai e encanta muitos visitantes. São as massas vegetais enormes e densas de Mata Atlântica nas encostas dos morros, ou “morretes” – que dão o nome a cidade – que chamam a atenção e despertam a curiosidade de quem visita.
Em um terreno singular, dentro de um condomínio rural, foi escolhido o local para a segunda casa dos clientes que queriam criar um ponto de celebração e encontro, consigo, com os outros e com a paisagem. A forma e a distribuição da casa são respostas às características naturais do local somadas à intenção de minimizar o impacto nesse pequeno paraíso.
Em projeto, já pensando em um processo sustentável, uma das principais tecnologias que fizemos uso foi a tecnologia BIM – Building Modelling Information. Isso nos possibilita visualizar diversas situações, incluindo antecipação de problemas, possibilita projetarmos a estrutura e como acontecem as conexões entre as diversas peças; pudemos resolver encaixes e conexões com outros materiais de maneira mais assertiva no projeto executivo. Tudo isso economiza tempo e deixa nosso projeto mais completo e bem resolvido para que surjam menos desperdícios, prejuízos e problemas em obra.
1 – Implantação eficiente
Desde a concepção do projeto, a questão sustentabilidade se fez presente, por se tratar de um projeto em um lugar muito especial em meio à natureza. Então, as soluções sustentáveis começam já na locação da casa, prezando pela menor interferência possível, no solo e no entorno vegetal. A implantação considerou a menor movimentação de terra, com fundações que utilizam materiais reciclados na composição do concreto, que conferem estrutura suficiente, sem o ônus da pegada ecológica de uma produção de concreto 100% nova.
A implantação também leva em consideração a melhor orientação solar, podendo, assim, tirar proveito da melhor insolação tanto nos meses de verão, quanto nos meses de inverno. A ventilação e a iluminação, assim como as melhores vistas, são favorecidas e emolduradas – tal qual obras de arte que são – pelas amplas esquadrias de vidro duplo, da fachada noroeste.
2 – Um Canteiro de Obras exemplar
A sustentabilidade vem de antes de a casa começar a ser construída – inicia no projeto e segue pelo canteiro de obras, antes das fundações serem concretadas. Para as instalações do canteiro, consideramos algumas premissas ecológicas que nos nortearam na hora de projetarmos o canteiro: desde o tapume com material reciclado certificado, o container reutilizado para escritório, copa e banheiros; até o uso de placas solares, para uso de energia limpa.
Algumas outras das táticas sustentáveis usadas foram: o sistema de aproveitamento da água da chuva; o tratamento séptico do esgoto; a organização de coleta seletiva dos resíduos para reciclagem ou reutilização na obra melhor para facilitar o descarte apropriado e lixeiras com separação adequada para reciclagem. Além desses, os básicos sempre necessários: como uso correto dos EPCs e EPIs, melhor organização no recebimento e acondicionamento dos materiais da obra de maneira organizada e limpa; entre outras práticas de processos e planejamento de canteiro e de obra eficientes.
A premissa de menor intervenção valeu também na hora de preservar a vegetação existente o máximo possível, e as inevitáveis perdas, serão repostas ao final da obra – uma iniciativa que partiu dos clientes mesmo.
3 – Sistema Construtivo e Materiais Sustentáveis
As soluções propostas, desde o uso de madeira na estrutura, até a escolha de fornecedores e mão-de-obra locais, também foram baseadas nesse princípio muito importante de sustentabilidade – a menor pegada de carbono para tornar a casa sustentável.
Cada definição de material, veio após muita pesquisa, como a madeira utilizada na estrutura de woodframe: o eucalipto de reflorestamento tratado. Essa madeira precisa estar seca e livre de imperfeições que possam interferir na qualidade estrutural. Como não optamos pelo tratamento de madeira em autoclave mais usual disponível por suas características não sustentáveis, especificamos o uso de um tratamento com óleos naturais, que, além de não ser tóxico, não polui o solo no momento futuro de descarte. O próprio sistema de woodframe significa economia e inteligência no quesito obra, por todas suas possibilidades, de melhor planejamento, dimensionamento e orçamento, e menor desperdício.
A durabilidade da casa como um todo foi um ponto importante. Pensamos nisso tanto em qualidade dos materiais usados, quanto na estética – afinal um design minimalista e atemporal também significa menos trocas de revestimentos, mobiliário e objetos soltos ao longo da vida útil da casa – uma forma de sustentabilidade. Assim o fizemos: os móveis são de fabricação local, integrados, com materiais naturais sem toxicidade, os de madeira, certificada, os de tecido, de algodão reciclado.
4 – Aberturas estratégicas
O dimensionamento e as aberturas dos planos foram pensados para além da estética. Foram desenvolvidos para melhor funcionarem como um conjunto, que favorece tanto a ventilação quanto a insolação e a temperatura dentro de casa. Aqui, o conceito de massa térmica foi aplicado: a face sul conta com pontuais aberturas e maior continuidade dos materiais, que estão dispostos em várias camadas, que incluem isolantes, evitando a troca de calor com o ambiente externo.
Na face norte temos mais aberturas com o propósito de aumentar a irradiação solar dentro de casa nas estações mais frias, com a varanda evitando essa irradiação nas estações mais quentes. As soluções permitem a diminuição do uso de sistemas de ventilação e refrigeração artificiais e, consequentemente, o consumo de energia
A zenital é parte importante desse quesito. É responsável pela maior contribuição tanto em iluminação quanto em temperatura, pois ela recebe a maior incidência solar da casa. A dupla camada de policarbonato compacto com espaçamento entre as placas, é favorável tanto para os verões quanto para os invernos, pois, com a camada de ar funcionam como isolante, não permitindo nem a entrada e nem a saída de muito calor.
5 – Instalações e Sistemas Complementares
A cobertura da casa apresenta algumas estratégias de sustentabilidade: os pontos de coleta de água da chuva, através dos tubos de queda presentes nas extremidades do telhado, conduzem a água para uma cisterna de armazenamento para posterior reaproveitamento. A água de reuso será utilizada na irrigação da horta e do jardim – por meio de sistema de gotejamento que possui controlador de fluxo. A horta, inclusive, é uma das estratégias de sustentabilidade, pois dá aos resíduos orgânicos produzidos na cozinha da casa uma possibilidade de reaproveitamento, como adubo, e tem como resultado uma produção de vegetais orgânicos.
Propomos também as placas fotovoltaicas, geradoras de energia, que serão importantes na economia de energia na vida útil da casa ao longo dos anos – o que implica também em uma boa economia financeira ao longo dos anos. Junto com as placas solares, temos as placas de aquecimento solar de água, que junto com o reservatório térmico, formando um sistema suficiente para aquecer a água da piscina.
Outras estratégias complementares no quesito economia de energia vem das instalações elétricas internas da casa, que incluem o uso de iluminação eficiente com lâmpadas led – que possuem maior durabilidade e gastam menos energia.
A instalação de ar condicionado multi split inverter – que possibilita a instalação de até cinco máquinas evaporadoras pela casa com apenas uma condensadora -, além de contar com a econômica tecnologia inverter – que controla o acionamento do compressor, regulando a temperatura para que funcione de maneira constante, sem ligar e desligar abruptamente. Ventiladores estão presentes, fazendo o ar circular e isso colabora para que o sistema de ar condicionado seja ligado menos vezes. Os demais eletrodomésticos são todos de baixo consumo.
Uma reflexão além do tempo
O grande avanço desse projeto é a introdução da perspectiva do tempo sobre a edificação, e isso vale para todas as construções. Para o passado, devemos pensar na origem dos materiais e o impacto ecológico que cada um tem na natureza; no presente, é importante expandirmos a sustentabilidade para além da sua construção, envolvendo também o uso da edificação e a redução no gasto dos recurso energéticos e naturais; e, para o futuro, é fundamental planejarmos para garantir a durabilidade do que foi proposto inicialmente.